sexta-feira, 8 de junho de 2007

Espadas que vencem almas

“Para os muçulmanos, matar ou ser morto por um judeu lhes garante uma entrada imediata no paraíso e na augusta presença do Deus Todo-Poderoso”.

- Vamberto Moraes em A Short History of Anti-Semitism


Apesar de ignóbeis, não raro, nós judeus nos deparamos com comparações ridículas entre as ações do nosso governo e o flagelo alemão ou Shoá. A imprensa internacional vale-se de métodos escusos e muitas vezes antiéticos para maldizer o Sionismo e até mesmo compará-lo ao Nazismo. Entretanto, esquecem-se de mencionar o quão próximo está o mundo árabe dessa cruel analogia. Convenientemente ou não, jornais como o Le Monde e pasmem, o próprio Haaretz, tem nos dado mostras do quão carniceiros podem ser os urubus da imprensa internacional, além de democráticos é claro. Analisemos o texto a seguir com olhos de quem observa atentamente o cotidiano e deixemos de lado as litanias ideológicas.

Os lideres árabes sempre deixaram clara a sua animosidade pelos judeus e o judaísmo. Em 23 de novembro de 1937 o Rei Ibn Saud da Arábia Saudita, disse ao coronel britânico H.R.P. Dickson o seguinte: “Nosso ódio aos judeus remonta à condenação divina destes pela sua perseguição e rejeição a Isa (Jesus) e a subseqüente rejeição do profeta por Ele escolhido”. A descrição detalhada desta lamentável alegação está disposta no mesmo livro que empresta a epigrafe deste artigo.

Quando Hitler apresentou as leis de Nuremberg, recebeu telegramas de congratulações vindos de todas as partes do mundo árabe. Não precisamos mencionar o caráter da relação mantida entre ele e o Mufti de Jerusalém, nomeado SS Gruppenfuehrer por Heinrich Himmler. O Mufti “Der Grossmufti Von Jerusalém” para os alemães, chegou a receber do regime hitlerista um escritório pessoal.

Em uma realidade contemporânea, menções anti-semitas nos livros escolares, nos jornais, e até nos programas de TV (que recentemente apresentaram Farfur – uma cópia do Mickey Mouse adaptada para o contexto anti-semita das arábias) são abundantes. Para se ter uma idéia, o livro nefasto de Adolf Hitler, Mein Kampf, foi distribuído em Jerusalém Oriental e em todos os outros territórios controlados pela Autoridade Palestina. No reino a que os Saud emprestam o nome, chegou a tornar-se um best-seller!

Recentemente o jornal Haaretz, deu destaque à obra do Sr. Dr. Ariel Toaff, que descrevia os libelos de sangue perpetrados pelos judeus medievais. O livro do Sr. Toaff ganhou ares de “denuncia” e encheu de argumentos grupos anti-semitas pelo mundo afora. Entretanto, anos antes, o Ministro da Defesa da Síria, Mustafá Tlas, publicou um livro sobre o mesmo tema. A Matsá de Sion - como foi batizado o livro do Sr. Tlas – acusa os judeus de matarem crianças para a confecção de matzót em Pessach. Felizmente, o Sr. Toaff retratou-se com toda a comunidade judaica através do mesmo veiculo utilizado para disseminar o seu livro, o jornal Haaretz.

No mundo árabe, até mesmo palavras cruzadas são utilizadas para atacar Israel e seu povo, oferecendo pistas de como o caráter dos judeus é traiçoeiro. As insidiosas provocações inculcadas nas crianças de hoje formarão os adultos de amanhã. Lamentavelmente, Golda Meir estava certa, os árabes nos odeiam muito mais do que amam aos seus próprios filhos.

Ainda no século IX, o califa de Bagdá, Al-Mutawakil, criou um distintivo amarelo para os judeus. Séculos mais tarde, isso foi imitado pela Alemanha nazista nos delírios do caudilho Adolf Hitler. Semelhanças e coincidências à parte.

E o que dizer do pavoroso estatuto dos dhimis, que ironicamente, foi concebido pelos islâmicos como uma proteção, para que nós, judeus, pudéssemos praticar as nossas crenças. Contudo, essa “proteção” pouco ou nada nos serviu ao longo da história. Pelo contrário, nos colocou na condição de um semi-povo, uma sub-raça no melhor estilo ‘untermersch’ dos alemães. Éramos inferiores, juntamente com os cristãos.

Além disso, dezenas, milhares de judeus pereceram no mundo árabe vitimas de progrons semelhantes a aqueles que os nazistas nos impingiram na Polônia. Não por acaso, rumores dão nota de que o chefe da Gestapo polonesa, Leopold Glein, teria controlado durante anos a polícia secreta egípcia. No Iraque de 1941, Rashi Ali, favorável ao regime nazista e inspirado pelo Mufti, provocou revoltas em um progrom em Bagdá gerando a morte de 180 judeus e deixando um número impar de feridos. Em Trípoli, a realidade escapou aos olhos e a selvageria tomou a forma de uma ação dantesca que vitimou mais de 140 judeus e deixou centenas de feridos. Após a guerra dos Seis Dias, um novo progrom, e novas mortes. Graças a este último, teve inicio o êxodo judaico que deixou apenas cem judeus entre os sete mil judeus que residiam na Líbia. Infelizmente, em 2002 morreu Esmeralda Meghnagi Z’l, pondo fim a uma das mais antigas comunidades judaicas do mundo. Na Síria, Alois Brunner, um dos mais notórios criminosos de guerra nazistas teve vez e lugar ao se tornar acessor do regime de Assad. Brunner foi auxiliar de um dos mais famosos carrascos alemães, Adolf Eichmann, o único criminoso sentenciado a morte em Israel. No Iêmen, o progrom em Aden levou a morte 82 judeus e destruiu centenas de lares judaicos. No livro de Said Gallab, Les Juifs Sont en Enfer, Les Temps Modernes o autor declara que “o pior insulto possível que um marroquino poderia proferir era tratar alguém como judeu”. Apesar disso, o Marrocos foi e é, um dos lugares mais tolerantes com os judeus no mundo árabe.

Embora os mundos árabe e persa não se comportem como o Marrocos do Rei Hassan – um dos únicos que tentaram proteger a população judaica no mundo islâmico – devemos acreditar na melhora. São as perspectivas de um mundo melhor que alimentam nossos dias. E é por esse mundo melhor – Olám Habá – que ansiamos hoje. Concluo parafraseando Mahmoud Darwish, um conhecido intelectual palestino, que disse certa vez que “padecemos de um mal incurável: a esperança” em seu discurso na cidade de Ramallah, no ano de 2002 ele complementou dizendo: “A guerra não se limita a nos privar das condições elementares de liberdade, ela nos priva até mesmo do essencial, de uma vida humana digna, declarando a guerra permanente a nossos corpos, nossos sonhos, às pessoas, às casas, às arvores, cometendo crimes de guerra. Ela não nos promete nada de melhor a não ser o apartheid e a capacidade da espada de vencer a alma.”


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